Em 26 de julho é comemorado o Dia Mundial dos Manguezais, um ecossistema rico em biodiversidade e que é parte da história social brasileira. O bioma persiste no Brasil, resistente, a despeito da degradação ambiental que atinge os manguezais desde a época inicial da ocupação portuguesa. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para conscientizar a população sobre a importância desses ecossistemas tanto para a biodiversidade quanto para as comunidades que vivem em seu entorno e que tiram deles o sustento e renda.
Os manguezais são áreas de transição entre os ambientes terrestre e marinho, encontradas nas regiões tropicais e subtropicais, e desempenham um papel preponderante na preservação da vida marinha e na proteção da costa contra a erosão e eventos climáticos extremos. Em essência, o manguezal é o exemplo perfeito do que pode ser considerado um ecossistema perfeito, ou seja, o conjunto de fauna e flora interagindo com sedimentos nos estuários, que são a região costeira onde a água doce dos rios e riachos se mistura com a água salgada do oceano.
A importância do manguezal se estende além da conservação ambiental. Este ecossistema proporciona provisão, com produção de alimentos, fornecimento de materiais diversos e combustíveis, retenção de sedimentos, recursos genéticos e biodiversidade; regulação climática e da água, melhora da qualidade do ar, controle da erosão; dispersão de sementes, formação e estabilização do solo e do substrato, conectividade da paisagem; além de beleza cênica, local para educação e pesquisa, lazer, recreação e turismo, identidade cultural e geração de renda.
O Espírito Santo tem 17 ecossistemas de manguezais distribuídos ao longo de 414 km de litoral, sendo o manguezal de Vitória, considerado o mais importante do Estado, não pelo tamanho ou extensão territorial, mas pela posição geográfica metropolitana e pela relação com a história de ocupação do Espírito Santo. O e-book “Mapeamento e análise espaço-temporal dos manguezais do Espírito Santo”, produzido pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), aponta que neste manguezal são encontrados muitos vestígios de populações indígenas pré-invasão portuguesa e de grupos paleoindígenas de quase 2 mil anos antes de Cristo.
Este manguezal forma um mosaico que engloba os municípios de Cariacica, Vitória, Vila Velha e Serra. Por isso, foram criadas unidades de conservação pelos municípios com o objetivo de proteger a área, que são a Estação Ecológica Municipal Ilha do Lameirão (Vitória), Parque Natural Municipal Dom Luiz Gonzaga (Vitória), Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Manguezal de Cariacica (Cariacica), Parque Natural Municipal do Manguezal de Itanguá (Cariacica) e Parque Municipal da Mantegueira (Vila Velha).
O manguezal é fonte de renda e subsistência para muitas famílias, que encontram neste ecossistema a possibilidade de perpetuarem saberes ancestrais enquanto fazem a economia girar. É o caso da atividade das paneleiras, que se liga diretamente à extração de recursos primários dos manguezais. Para a fabricação das panelas de barro capixabas, as paneleiras contam com as técnicas desenvolvidas ao longo de gerações e o barro retirado do mangue. Essa prática de produção de panelas de barro, que é o meio de vida de muitas famílias do entorno no manguezal de Vitória, é desde 2002 considerada Patrimônio Imaterial Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O Episódio 5 da série Griôs de Goiabeiras - Minha Terra Natal, produzido pelo Instituto Marlin Azul e dirigido por Beatriz Lindenberg e Jamilda Bento, mostra a riqueza do manguezal de Vitória e o processo de extração do barro com que são feitas as panelas.
Também é do manguezal que são extraídos peixes e crustáceos, como caranguejos e siris, através da pesca artesanal, que são a base da culinária típica capixaba e, também, movimentam a cadeia turística de toda a região. A preservação do manguezal também é, portanto, imprescindível para a manutenção da pesca artesanal.
Apesar dos esforços de conservação, os manguezais do Espírito Santo enfrentam diversos desafios. A urbanização desenfreada, a poluição e o desmatamento são ameaças constantes. A expansão urbana em áreas costeiras tem levado à degradação de grandes áreas de manguezal, colocando em risco a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos que eles proporcionam.
Para garantir a preservação dos manguezais, é essencial que as políticas públicas sejam fortalecidas e que haja uma maior integração entre os órgãos ambientais, as comunidades locais e o setor privado. A educação ambiental também desempenha um papel fundamental, pois sensibilizar a população sobre a importância dos manguezais é fundamental para promover ações de conservação e uso sustentável desses ecossistemas.
Neste jogo é possível conhecer mais do manguezal e das espécies que compõem este ecossistema. Acesse através deste link.